Coopérnico defende modelo democrático de comunidades de energia

Um Estudo realizado pela organização  Friends of the Earth Europe alerta para apropriação indevida do conceito de Comunidades de Energia por empresas privadas em Portugal. 


2025-06-30

O alerta surge na sequência da publicação do relatório internacional “Corporate Capture of Energy Communities”, sobre a captura corporativa do conceito de comunidades de energia, que analisa os desafios que comprometem o verdadeiro espírito das comunidades de energia: a participação cidadã, a propriedade coletiva e a gestão democrática da energia renovável.

Lacunas nas definições legais, supervisão insuficiente e implementação nacional inconsistente têm permitido que as empresas se apropriem do rótulo de comunidade de energia, comprometendo o propósito original.

O estudo denuncia a falta de proteção legal para os verdadeiros projetos comunitários de energia renovável e analisa os casos de 5 países europeus, incluindo o caso de Portugal.

Em Portugal, apesar da criação de um quadro legal para as Comunidades de Energia Renovável (CER) desde 2019, o relatório aponta várias lacunas na legislação que dificultam o desenvolvimento de projetos genuinamente comunitários. Entre as principais fragilidades está a ausência de garantias claras de autonomia e propriedade coletiva, o que tem permitido a proliferação de modelos controlados por grandes empresas sob o rótulo enganador de “comunidade de energia”.

“É essencial que as comunidades de energia sejam lideradas pelos cidadãos e não por  empresas. Quando uma empresa privada detém e controla a instalação, os cidadãos deixam de ser participantes ativos e tornam-se apenas clientes. Isso desvirtua o objetivo central destas comunidades”, afirma Ana Rita Antunes, coordenadora executiva da Coopérnico.

Dados revelados no relatório indicam que, em junho de 2023, apenas 5% dos cerca de 700 projetos em fase de licenciamento eram verdadeiras comunidades de energia. Os restantes correspondem a modelos de autoconsumo coletivo promovidos por terceiros, onde não existe controlo democrático, nem partilha equitativa dos benefícios.

A Coopérnico sublinha que, num momento em que Portugal é líder na produção de energia renovável ao nível europeu  reforça os compromissos com a transição energética, é crucial garantir uma legislação clara que defenda a participação dos cidadãos nesta transição respeitando os princípios das CER: participação aberta e voluntária, propriedade e controlo dos cidadãos, e ausência de fins lucrativos.

Entre as recomendações avançadas no relatório, destacam-se a restrição do acesso a incentivos públicos exclusivamente a projetos com verdadeira propriedade comunitária; o reforço do controlo da publicidade enganosa que utiliza indevidamente o termo “comunidade de energia”; a atribuição de poderes aos reguladores para fiscalizar e sancionar abusos; e a implementação de campanhas de literacia energética que ajudem os cidadãos a distinguir modelos autênticos de falsas comunidades.

Francesc Cots, representante da Friends of the Earth Europe, considera que “a energia comunitária é uma oportunidade única para democratizar a transição energética. Mas, para isso, é fundamental proteger o conceito legal e político de comunidade energética do risco de captura pelas grandes empresas.”

A Coopérnico, enquanto cooperativa de energia renovável e estando a apoiar ativamente cidadãos e autarquias locais na criação de CER, apela ao Governo português para que reforce o compromisso com o modelo comunitário, criando condições legais e políticas que garantam a sua integridade e desenvolvimento.


Ler Mais